Aos olhos de muitos de nós, portugueses, a nossa industria automóvel é resumida a uma, talvez duas marcas de pequeno ou médio sucesso. A realidade é que a nossa industria é quase tão antiga quanto o automóvel em si.
Hoje, iremos abordar a criação do Edfor, um marco na inovação automobilistica nacional.
Em Abril de 1937 surge um novo automóvel nacional no Salão Automóvel do Porto mas há algo de familiar acerca desta nova edição do evento. Eduardo Ferreirinha, criador do carro do nosso blog post anterior, o Felcom, trouxe ao Salão Automóvel outra das suas criações, o Edfor Grand Sport. Edfor (Ed do seu nome e For de Ford) era um elegante roadster de dois lugares que chamou a atenção da imprensa nacional e internacional.
O Edfor era alimentado por um potente V8 da Ford de pistões desenhados e construídos pela EFI (Eduardo Ferreirinha & Irmão), uma metalúrgica que se dedicava ao fabrico de componentes para automóveis cujo Eduardo Ferreirinha era dono. A imprensa estrangeira ficou maravilhada pela quantidade de inovações que Eduardo trazia à industria automóvel numa única plataforma. A viatura era composta de um chassis construído em liga de alumínio fundido, uma suspensão de molas helicoidais que eram reguladas a partir do interior do carro a qualquer momento e ainda uma direção fortemente desmultiplicada que facilitava a realização de manobras. A carroçaria foi projectada especificamente por questões de aerodinâmica mas sendo feita também em alumínio, tinha a mais valência de pesar apenas 150kg. Isto associado ao motor V8 de 3620 cc de cilindrada e de 90cv tornava o Edfor um carro verdadeiramente desportivo e feito para a estrada, dando razão ao seu nome. Influenciado pelo design aerodinâmico dos automóveis americanos da época, o Edfor é dotado de uns brilhantes suportes para os faróis dianteiros em forma de torpedo. Este mesmo detalhe repete-se na traseira conectando as abas das rodas e a carroceria.
Durante este período, um jovem cineasta decide realizar uma pequena curta-metragem chamada “Já se Fabricam Automóveis em Portugal” sobre a história da criação do Edfor. Este cineasta, amigo de Eduardo Ferreirinha e também piloto de corrida era o agora-galardoado Manoel de Oliveira. Manoel de Oliveira conheceu Eduardo Ferreirinha quando lhe comprou um dos seus carros de competição, o Ford Especial Méneres & Ferreirinha.
Manoel de Oliveira e o seu Ford Especial Méneres & Ferreirinha
Este carro é visto por muitos como um protótipo do que veria a ser o Grand Sport graças a tantas semelhanças entre os dois carros. Ao contrário do Felcom, o Ford Especial Méneres & Ferreirinha ganhou inúmeros pódios em várias competições nacionais e internacionais com Manoel de Oliveira ao volante, tendo até quebrado vários recordes da época. O mesmo sucedeu ao volante do novo Grand Sport.
Infelizmente o sucesso da construção do Grand Sport foi curto. Se a Primeira Guerra Mundial terminou a produção do ATA como falámos no inicio dos nosso blog posts acerca da História do Automobilismo Nacional, desta vez foi a Segunda Guerra Mundial que levaria Eduardo Ferreirinha a terminar a produção da sua mais recente criação após apenas 4 veículos construídos.
Mas o fim da história do Edfor não seria aqui. Registos atuais indicam que apenas dois Edfor sobreviveram até aos dias de hoje. O primeiro foi isso mesmo, o primeiro construído, que por sua vez foi o que mais sucesso teve nas pistas nacionais. Reside de momento na Alemanha nas mãos de um colecionador que o comprou após um acidente numa prova de históricos onde aparentava que o carro nunca teria recuperação possível. Mas felizmente, este colecionador consegui completar a tarefa e o carro foi totalmente reconstruído. O segundo, de 1939, é o último a ser produzido e o único que se mantém em perfeitas condições originais. Este último felizmente, está nas mãos da família Ferreirinha desde 1955. Eduardo, filho do fundador, descobriu-o por acaso quando era militar no quartel de Santa Margarida em Abrantes. Eduardo correu atrás do carro até conseguir fazer o seu condutor parar e após uma pequena conversa veio a descobrir que o atual dono era Rui Duarte Ferreira, também industrial e piloto. Ao saber que a viatura voltaria às mãos de quem o construiu, decidiu vendê-lo a Eduardo. Nos dias que correm, o último Edfor construído, único totalmente original comparece ainda em várias concentrações de clássicos pelo país sempre conduzido por um dos familiares do seu criador, Eduardo Ferreirinha.
Veja na seguinte galeria mais detalhes sobre o Edfor:
Fontes:
O Automóvel: Design Made in Portugal