Aos olhos de muitos de nós, portugueses, a nossa industria automóvel é resumida a uma, talvez duas marcas de pequeno ou médio sucesso. A realidade é que a nossa industria é quase tão antiga quanto o automóvel em si. Hoje, iremos abordar a criação da ALBA.
ALBA... ...O verdadeiro automóvel português.
Sendo o FAP o início do Renascimento da Automobilismo Nacional, um dos maiores projectos que viria deste mesmo Renascimento, será o ALBA. O mais conhecido dos automóveis dedicados às competições produzidos em Portugal, o ALBA começou a sua história na Fundição Albergariense, conhecida por Alba, primeiras e ultimas do nome da localidade onde estipulou: Albergaria (a Velha).
Esta empresa conhecida por produzir ferros de engomar, fogões, bocas-de-incêndio e bancos de jardim somava já uma vasta experiência em produtos metalúrgicos
O filho do criador era um verdadeiro apaixonado pelo automóvel e pelo desporto que lhe era inerente. A expansão industrial e metalúrgica do nosso país nos anos 50, a par da re-expansão do automobilismo desportivo, levou António Augusto a ponderar a criação de um veiculo de competição. De forma a que o projecto arrancasse, a ajuda do seu amigo, Francisco Corte Real Pereira foi essencial. Francisco, piloto e mecânico, correra já com DM e FAP, levando Augusto a acreditar que era realmente possível desenhar e produzir uma viatura de competição em Portugal.
Dispondo já de conhecimentos na área da metalurgia, e com ajuda dos mecânicos Ângelo Oliveira Costa e Corte Real Pereira, António Augusto começa em 1951 a produzir o Alba.
Com base num Fiat 1100 do final dos anos 40, tal como Fernando Palhinhas usou no FAP, Augusto começa a criar o ALBA como o próprio disse à revista O Voltante em 1953:
“Encurtei a distância entre eixos, que passou de 2,42 para 2,20 metros, reforcei o chassis, baixei-lhe o centro de gravidade, recuei-lhe o motor e modifiquei-o, dando-lhe principalmente uma culasse feita por mim, válvulas de maior diâmetro, taxa de compressão mais elevada, novos tubos de admissão e escape, etc.”
Assim, o Alba é criado. Com 70cv’s e a velocidade máxima de 185km/h. A sua carroçaria era inteiriça, equilibrada e bem proporcionada como o FAP viria a fazer mais tarde na sua evolução.
A produção da carroçaria ALBA e um modelo na actualidade.
Em Agosto de 1952, no Circuito de Vila do Conde, o Alba estrea-se nas provas face a três FAP e três DM. Infelizmente a viatura sofreu de enormes problemas mecânicos e foi a primeira viatura em prova a desistir. Um mês depois, o Alba voltaria à mesma pista, desta vez com um motor Peugeot mais fiável e viria a ganhar um honroso 2º lugar.
Um FAP e um ALBA em competição.
Em 1953, durante um período de vitórias por parte da Alba, o plano para uma segunda versão já estava deliniado. Com um motor refinado e com material EFI, de Eduardo Ferreirinha, criador do Felcom e Edfor, o segundo ALBA, de carroaria mais aerodinâmica surge no Circuito de Monsanto. Prova que venceu com facilidade.
Em 1954, a ALBA já era uma marca de notoriedade, mostrando, em resultados práticos, o mesmo nível que os FAP. A diferença entre os dois, é que quando o ACP alterou as regras, levando mesmo ao fim da FAP, a ALBA apostou tudo para mesmo assim continuar nas provas.
Após testes com motores Alfa-Romeo e Volvo, que nunca seguiram avante devido ao seu excessivo peso afectar o centro de gravidade das viaturas, António Augusto decidiu comprar aos irmãos Maserati, um leve motor OSCA. Após a resposta dos irmãos de que cada motor era 80 mil escudos, Augusto respondeu com a célere frase:
“Por menos do que esse valor, faço eu um motor novo, aqui nas minhas instalações!”
E assim o fez.
Com o motor dos irmãos Maserati em mente, António Augusto, Corte Real Pereira e Ângelo Costa reuniram uma equipa que iria criar, pela primeira vez, um motor de raiz para um automóvel nacional. A equipa concebeu um motor moderno, de quatro cilindros, 1500cc, duas árvores de cames à cabeça, duas velas por cilindro, distribuidores alimentados directamente pelas árvores de cames, bloco e cabeça em alumínio. Os únicos componentes não produzidos in-house eram os êmbolos Mahle, carburadores Solex e bomba de gasolina Bosch.
O motor ALBA.
Infelizmente, devido a atrasos na construção e uma inadaptação em trabalhar em tempo inteiro no projecto, apenas dois motores foram produzidos. Daí em diante, muitas vezes eram vistos 3 ALBA em prova. Dois com o novo motor produzido pela marca, e um dos originais ALBA ainda com motor Fiat.
As carroçarias foram evoluindo ao longo dos anos até à última prova de um ALBA em 1961.
Um protótipo de ALBA coberto e um ALBA com a última versão de carroçaria.
A nova mudança de regras nas competições, as novas evoluções tecnológicas e alguns acidentes deixando os ALBA irrecuperáveis, levaram a que a ALBA fosse perdendo vitórias pouco-a-pouco até ao último dia que se viu correu um ALBA em 1961.
Apesar da sua história ter chegado ao fim, o ALBA viria a ficar na história para sempre como o mais puro automóvel produzido nacionalmente.